A tristeza morava ao lado
Em um vilarejo distante daqui, lá pelos confins do Brasil lá pelas bandas de Paulo Afonso moravam duas crianças. Uma menina alegre que a chamavam de Bruxinha por ser a criança mais levada da região e o Pintacilgo, uma criança diferente das outras e vou contar porque!
Todos os dias Thaina, digo a Bruxinha saia cantarolando rumo a padaria comprar pães pra sua mãe servir a clientala. Elas moravam juntas numa pousada que a mãe herdara de seu falecido marido.
Maria, mulher de bom coração segundo as amigas.
Voltando a nossa Bruxinha, voltando pelo caminho de sempre encontrava lá na calçada em frente ao açougue, o Joõazinho. Assim que ela o viu já pensou num apelido carinhoso de Pintacilgo, já que o menino que apesar da aparência triste vivia assobiando.
Ao contrário dos outros dias a menina curiosa que era, resolveu puxar papo com o menininnho.
E aí Pintacilgo não cansa de assobiar?
E o menino nem uma palavra...
Você não tem lingua não?
Aí ele virou-se para ela e sorrio:
- ter até tenho, mas mamãe falou que eu não posso falar com você.
É,
e porquê!
- Sua cor, você é uma menina cor de carvão e eu não posso ter amizade com crianças assim senão vou ficar preto.
-Foi isso que ela te disse?
-Foi.
Vou indo, minha mãe está me esperando, tchau Pintacilgo.
E o menino deu de ombros, tchau.
A pequena parecia que havia caido em buraco imenso e que ninguém a poderia ajudar a se salvar.
Chegando em casa a mãe notou sua tristeza e perguntou:
-Que houve meu raio de sol?
-Mãe porque ninguém gosta da nossa cor?
-isso não é verdade flor, seu falecido pai era louro de olhos azuis e nós nos amávamos muito, até quele se foi. Ele sempre vai morar no meu coração.
-Mas ele nunca lhe ofendeu por causa de sua cor.
-Já sim, mas logo se arrependeu, ele me disse uma vez...Preto quando não suja na entrada,suja na saída. Numa noite que saimos e ele ficou com ciúmes de mim com outro rapaz.
-E a mamãe mesmo assim se casou com ele?
-Sim, eu o amava e depois disso nunca mais ele falou esse tipo de coisa, eu perdoei.
-Poxa vida, como é tudo complicado...E depois de dar um enorme beijo na mãe que chorava, saio pra brincar na quintal atrás da casa.
Subiu no pé de abacate e pode ver o menino brincando sozinho, então desceu pegou uma pedrinha e jogou nele que ficou procurando de onde ela havia caido.
Mais uma pedrinha foi lançada, até que em dado momento ele avistou a Bruxinha dando risada atrás de um galho. Ele pegou seus burguinhas e foi pra dentro de casa. Naquela noite houve uma grande tempestade, parecia que o céu ia desabar na cidade, o rio encheu em questão de minutos e a população ficou em estado de alerta. Foram horas de agonia, até que lá pelas 4 da manhã, uma mulher gritando apareceu a porta de Maria chamando por socorro, seu filho estava muito mal e precisava de alguém que ficasse com ele enquanto ela ia em busca de médico correndo. Foram ambas Maria e Bruxinha cuidar do enfermo, que delirava de febre. As horas seguintes foram cruciais para salvar a vida do Jõazinho que tinha contraído uma pneumonia.
Já medicado, a mãe acalmou-se e delicadamente agradeceu e pediu que as duas fossem descançar, afinal passaram a noite em claro. E assim foi, cada qual em seu lares.
Passaram os dias e Jõazinho melhorou, corado já sorria e ariscava tomar sol na calçada durante a manhã. Sua mãe fingia que nem conhecia a vizinhas e fazia questão de bater as portas e as janelas na cara delas.
-Não liga minha filha, as pessoas são assim, más por natureza, felizmente nem todos são assim...
Bruxinha ouvia calada, com a cabecinha baixa.
na manhã seguinte quando foi comprar os pães, ouvia uma vós de menino dizer:
-Oi Anjo! você zelaste de mim enquanto estava doente, me lembro de seu sorriso apertando minha mão, meu corpodoía muito.
ela permaneceu calada;
-Que foi? Onde está aquela menina sorridente que me joga pedras, me põe apelido e canta o dia todinho?
Com o rosto corado, os olhos em brasa ela responde:
-Sua mãe matou...
-Não! Minha mãe só contribui para algo que infelizmente alguns fazem, eu não sou assim, não vejo assim...
Bruxinha partiu sem dizer uma palavra, sua vida mudou, seu sorriso apagou-se e ela foi pra longe estudar.
Pintacilgo também foi, voltou doutor feito o pai. Já médico e de volta a cidade, quis saber da linda moreninha que o deixara há muito anos sem resposta.
Ela se tornara uma linda jovem, cabelos cacheados ao vento e uma pele macia feito pessêgo.
Quando cruzaram a rua seus olhares se fixaram e o espanto foi inevitável. Ambos falaram ao mesmo tempo. Riam e ele pediu que ela falasse primeiro:
-É mesmo você, aquele menino das pernas finas?
-Sou sim e se lembra como seus dentes eram pra frente?
-Claro que sim, nem me lembra...
Seus olhos não conseguiam parar de se ver.
-Eu tenho algo pra te dizer Bruxinha, algo que eu não pude dizer a uns 15 anos atrás.
-E o que é?
-Eu te amo, e quero me casar com você...
-Mas Jõazinho, sua mãe não vai permitir.
-Sou um homem agora e ela nada pode fazer ou dizer, nada mudará minha decisão. Se aceitar nos casaremosem breve...
-Eu quero sim, sempre te amei, quando parti levei você no meu coração.
E assim foi, o preconceito rendeu-se a um sentimento maior, o amor.
E a mãe de Jõazinho teve 4 netos mulatinhos dos cabelos louros que ela ama mais que tudo nesta vida.
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